O câncer de pele responde por 30% de todos os tumores malignos registrados anualmente no Brasil. Dentre os diferentes tipos, o melanoma é o mais grave e também o de menor incidência – representa apenas 4% dos casos. Assim como todos os cânceres, os prognósticos de cura são melhores quando o melanoma é detectado precocemente, daí a importância das ações da campanha Junho Preto, instituída para conscientizar e orientar sobre a doença.

Nos últimos dez anos, o tratamento do melanoma apresentou grandes avanços, segundo o oncologista Vinícius Corrêa da Conceição, integrante da equipe médica do grupo SOnHe de Oncologia e Hematologia. O sucesso dos tratamentos, no entanto, depende do diagnóstico nos estágios iniciais.

As visitas regulares ao dermatologista, lembra o oncologista, não estão na lista de hábitos dos brasileiros. “Normalmente as consultas ocorrem somente quando surge algum problema específico”, observa, sugerindo a mudança de comportamento, sobretudo para o grupo de pessoas que reúnem indicadores de suscetibilidade à doença. “Pessoas de pele, olhos e cabelos claros, que se expõem muito ao sol, que executam atividades laborais nestas condições ou que têm histórico familiar devem incluir na rotina o autoexame e as visitas regulares ao médico”, aconselha.

O melanoma costuma acometer pessoas na faixa dos 50 a 60 anos, o que não exclui os mais jovens, porém é raro em crianças e adolescentes. Ocorre que a doença, apesar de se manifestar com maior frequência na idade adulta, tem na infância o surgimento dos primeiros fatores de risco. “Aquela pessoa que, quando criança, tinha queimaduras solares intermitentes, ou seja, duas ou três vezes por ano ganhava queimaduras de sol nos passeios à praia ou à piscina, tem mais chances de desenvolver o melanoma do que uma pessoa que apresentou exposição contínua ao sol.”

A detecção do melanoma pode ser facilitada pelo emprego da regra do “ABCDE”, orienta Vinícius Corrêa da Conceição, que aponta indicativos da lesão maligna. O “A” diz respeito à assimetria, observada quando as duas metades da lesão são diferentes. O “B” é relativo às bordas irregulares, recortadas. A letra C é sobre as cores: quando tons de vermelho, branco, preto e cinza se misturam. O “D” aponta para o diâmetro, quando supera os 6 milímetros (“A medida equivale ao tamanho da abertura do apontador de lápis”, exemplifica o oncologista). E o “E”, da evolução, quando a lesão muda de cor, de tamanho, passa a sangrar ou a coçar.

“É interessante observar que, às vezes, manchas de nascença ou pintas já existentes podem se transformar em melanoma, por isso a importância de observar frequentemente o próprio corpo. Toda pinta ou mancha que muda de aparência com o tempo deve ser observada”, reforça, acrescentando que quando a doença é diagnosticada em estágio 1, por exemplo, as chances de cura são superiores a 90%.

O melanoma pode aparecer em qualquer parte do corpo, na forma de manchas, pintas ou sinais. A alta gravidade do melanoma está relacionada à facilidade da doença se espalhar para gânglios linfáticos e órgãos do corpo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, a estimativa é de 8.450 novos casos no Brasil, com número de mortes estimado de 1.978, sendo 1.159 homens e 819 mulheres (conforme dados do Atlas de Mortalidade por Câncer de 2019).

Tratamentos

Graduado pela Unicamp, com residência em Clínica Médica e Oncologia pela Unicamp e título de especialista em Cancerologia e Oncologia Clínica pela Sociedade Brasileira de Oncologia, Vinícius Corrêa da Conceição explica que o melanoma está entre os cânceres nos quais os tratamentos mais avançaram nos últimos anos.

A lesão é retirada por meio de cirurgia e, por vezes, é necessário mais do que um procedimento no paciente. “Normalmente, no primeiro procedimento, o médico retira a lesão e envia o material para biópsia. Havendo o resultado positivo, pode ser preciso realizar uma nova intervenção para ampliar a área e retirar um pouco mais de pele em volta da lesão”.

O oncologista cita dois tratamentos de ponta que podem ser recomendados após a cirurgia ou para doença metastática mais avançada, cujos resultados são altamente positivos. Um deles é a terapia alvo contra o gene BRAF – mutações produzem uma alteração na proteína BRAF, que faz com que as células do melanoma se desenvolvam. Por meio da biópsia, é possível determinar a mutação da proteína BRAF e iniciar tratamento com inibidores.

Outro tratamento de vanguarda é a imunoterapia, que faz uso de certos medicamentos para estimular o sistema imunológico do paciente a reconhecer e combater as células cancerígenas. “Esses tratamentos trouxeram grandes progressos que melhoraram os prognósticos dos pacientes. São mais eficazes quanto mais cedo o melanoma for diagnosticado e, infelizmente, não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS)”, observa, completando que a maioria dos convênios médicos dá acesso a ambos.

Fonte: https://horacampinas.com.br/junho-preto-destaca-importancia-da-orientacao-sobre-o-melanoma/